Cerca de 100 pessoas se reúnem em protesto na agência da Caixa após acusação de racismo contra empresário; vídeo

A princípio o gerente tentou impedir que os manifestante entrassem na agência, ao notar que o grupo não cederia, não tentou impedir mais.

Uma manifestação contra o racismo foi realizada na tarde desta terça-feira (26), cerca de 100 pessoas foram até a agência da Caixa Econômica Federal do Relógio de São Pedro, na Avenida Sete de Setembro, Centro de Salvador.

A manifestação teria sido organizada para cobrar respostas sobre um suposto ato de racismo que o empresário Crispim Terral, 34 anos, teria sofrido nesta agência quando foi imobilizado por um policial militar com um golpe mata-leão, no último dia 19. O caso ganhou grande repercussão após o vídeo do ocorrido ter sido publicado nas redes sociais.

O psicólogo e professor Walter Takemoto, 64, que também fez parte da manifestação em defesa do empresário, lembrou do caso recente onde o estudante Pedro Gonzaga, 19, foi assassinado por um segurança da rede de supermercado Extra, em circunstâncias parecidas, há 12 dias.

“Não tem nem 15 dias que vimos coisa parecida com Pedro. E eu penso que se Crispim fosse mais jovem, mais franzino, quem sabe não poderia ter acontecido coisa pior. O golpe foi o mesmo”, destacou.

O empresário Crispim, acusa tanto a Caixa quanto a PM de racismo. Segundo ele o PM teria atendido à ordem do gerente geral da agência, que afirma, em vídeo, que “só sai com ele algemado”. A vítima também contou que durante dois meses vem tentando resolver um problema com a agência bancária, ele solicitava o recebimento do comprovante de pagamento de dois cheques – um no valor de R$1 mil e outro no de R$1.056. Segundo ele os cheques foram devolvidos pela agência, em novembro do ano passado, sob alegação de que não havia saldo na conta para compensá-los.

Todo o ato de violência foi registrado pela filha adolescente da vítima, que acompanhava o pai na agência bancária. O vídeo está sendo compartilhado em todo o país. Na quarta (27), a Caixa Econômica informou que afastou o funcionário e em nota fez o seguinte esclarecimento:

“A Caixa informa que está apurando e tomará todas as providências cabíveis. A CAIXA ressalta que repudia atitudes de discriminação cometidas contra qualquer pessoa”.

Repúdio

Jerônimo Mesquita, presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção Bahia (OAB-BA), repudiou a postura do gerente, ele explicou que as imagens gravadas pela filha do empresário são claras e mostram uma sucessão de “abusos de poder”.

“Antes mesmo de chegar à violência, aquilo já é absurdo. Há uma súmula no Supremo Tribunal Federal (STF) que diz que o uso de algemas deve ser excepcional. A vítima apenas reivindica direitos, quer esclarecimentos”. Disse Jerônimo.

O advogado disse também que o PM não poderia ter atendido ao pedido do gerente da agência, que exigiu a prisão do empresário.

“Um servidor público tem o dever de se recusar a cumprir esse tipo de ordem, que chamamos de manifestamente ilegal, o policial tinha que ter se negado a cumprir. Crispim não oferecia risco à vida de ninguém ali”, concluiu.

Esclarecimento

Em nota, o PM se pronunciou, ele informou que o 18º Batalhão da Polícia Militar (BPM/Centro Histórico) foi acionado por prepostos da agência porque um dos clientes se recusava a deixar a agência, mesmo após o término do expediente.

O vídeo foi enviado para comissão como forma de denúncia e já está em contato com o empresário.

De acordo com o psicólogo Walter Takemoto, a princípio o gerente da loja pediu que não entrassem, mas, ao notar que o grupo não cederia, não impediu mais. O ato de manifestação que durou cerca de uma hora, contou com a presença de representantes do movimento negro e chamou a atenção de clientes que aguardavam no local.

Assista ao vídeo: