Este projeto ensina mulheres a fazer casas, “Arquitetura na Periferia”, divas com a mão na massa

Conheça as histórias de mulheres que tem encarado a construção civil com maestria.

Estudo recente da ONU aponta que:

  • 33 milhões de brasileiros não tem onde morar, mesmo com iniciativas do Governo Federal como o Programa Minha Casa Minha Vida, ainda não conseguiu sanar o déficit habitacional instalado no Brasil.
  • Para estudiosos do assunto, como a mestre em política social Karina Figueiredo, acreditam ser necessário a intensificação de implementação na área de políticas habitacionais: “Hoje, temos o aumento da população, com isso aumentou o desemprego e um mercado imobiliário inacessível. O Minha Casa Minha Vida conseguiu avançar, mas não foi suficiente. O número de famílias que não conseguem custear o aluguel ou o pagamento das parcelas de seu imóvel popular aumentou”. Afirmou.
  • Nesta alarmante estatística, fazem parte também os domicílios chefiados por mulheres, sendo estas o maior contingente populacional presente nas ocupações. É notória a participação que elas exercem nos movimentos que lutam por moradia quer seja na coordenação ou liderança. Não é por acaso que muitas ocupações dos movimentos MST e MTST são batizados com o nome de mulheres, a exemplo de Dandara, que foi uma líder de quilombo no Brasil colônia.

Exemplo de vida:

  • Outra história inspiradora é a de Cheyenne Pereira Miguel, Coordenadora de um movimento popular belo horizontino, conhecido como MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas).
  • Esta Mulher aguerrida, que acumula em seu currículo várias profissões como limpadora de vidros e modelo fotográfica, se mudou com toda a família para a Ocupação Paulo Freire, no ano de 2017. Com a ajuda de familiares construiu com suas próprias mãos o barraco feito de madeirite, que é o material utilizado pelos moradores destes locais, que contam com a solidariedade de seus membros, não podem valer de orientação especializada.
  • Mesmo com a casa acabada, Cheyenne não se contentou, tinha o desejo de melhorar lá para que se tornasse mais apropriada para sua família.
  • “Queria aprender como fazer para não gastar tanto com mão de obra na minha casa”, confessou.
  • E foi com este propósito que encarou mais um desafio. Por meio de outras mulheres que viviam em uma ocupação vizinha, nas mesmas condições que as suas, que teve conhecimento do projeto Arquitetura na Periferia.

Sobre o projeto

  1. Fruto da tese de mestrado defendida pela arquiteta Carina Guedes, está em atividade desde o ano de 2014, onde a premissa é o empoderamento destas moradoras de áreas com precárias condições de infraestrutura e moradia. São ofertados cursos de capacitação em assistência técnica que possibilitam que elas mesmas construam ou reformem suas casas.
  2. “Trabalhamos para que as mulheres tenham o máximo de autonomia no processo de tomada de decisões envolvendo a melhoria de suas casas”. Afirmou Carina.
  3. O que também chama a atenção no projeto é que todos os profissionais envolvidos são mulheres, como a arquiteta Marina Bornel, as engenheiras civis Rafaela Dias e Tereza Barros, além da idealizadora, Carina.
  4. Porém, mesmo com toda articulação, seja pelas mulheres moradoras das ocupações, o que tem se percebido na realidade é diferente.
  5. “Na construção civil e nas decisões de como a casa vai ser a maioria relata que suas vontades não são respeitadas, e algumas nem sequer são consultadas. São o pai, tio, marido ou pedreiro que decidem. Isso traz consequências ruins na vida das mulheres que, além do trabalho, cuidam da manutenção da casa, tais como: cozinhas sem ventilação, escadas estreitas, torneiras onde não se consegue enfiar o balde”, aponta a arquiteta.
  6. A metodologia do projeto é baseada em oficinas com duração de quatro até seis meses, iniciando com noções básicas de desenhos e croquis.
  7. A segunda etapa são aulas de finanças, cálculos e de gastos com a obra e de como administrar o recurso adquirido por meio do empréstimo recebido do projeto.
  8. “É muito legal ver a transformação delas durante este processo: líderes comunitárias já reconhecidas nesse espaço de luta, mas não no doméstico, passam a ver que têm igualmente a mesma capacidade, e que a elas só falta o acesso à informação”, concluiu Carina .
  9. No caso de Cheyenne, que tinha apenas o conhecimento prático, sem assistência técnica, comemora o novo aprendizado já aplicando os novos conhecimentos adquiridos em alvenaria, hidráulica, parte elétrica, colocação de pisos.

“Para uma mulher militante de ocupação, esse aprendizado vai além da construção. Ele representa liberdade e conquista.”

Para a idealizadora do Projeto, ele cumpre também um outro papel que é o de divulgar a arquitetura por um outro viés do até então conhecido, o de atuar sobre a desigualdade social brasileira.

“Uma vez, fazendo uma pesquisa com uma moradora da Ocupação, Dandara, vi que já havia um projeto de arquitetura para ela. Ela dizia que era lindo, mas quando perguntei porque não construiu, ela falou: ‘Não é para mim’. Do que adianta um projeto bonito se ele vai ficar na gaveta? O importante da assessoria técnica é reconhecer os hábitos e o desejo de quem mora”.

Estes exemplos nos mostram que quando existe força de vontade de mudar uma realidade dada é possível construir lindas histórias.