Ex-seringueira viúva conseguiu formar seus 11 filhos; “Muito orgulho”

"Ou colocava todos na escola ou não colocava nenhum", disse Marlene Maciel.

No momento em que os filhos da ex-seringueira Marlene da Costa Maciel, de 59 anos, passaram a crescer, ela juntamente com seu esposo não titubearam. O casal largou a vida no Seringal Extrema, no Rio Moa, interior do Acre, e se mudaram para uma propriedade rural no Ramal Macaxeiral, na zona rural do município de Cruzeiro do Sul. O objetivo do dois seria conceder aos filhos a oportunidade de estudarem e terem uma vida melhor.

Infelizmente seu esposo, falecido em dezembro de 2015, não teve a oportunidade de poder contemplar todos os filhos formados. Dentre os 14 filhos ainda vivos do casal, nove homens e cinco mulheres, somente um não entrou em um curso do ensino superior. Onze deles contêm formação acadêmica e outros dois ainda estão terminando suas faculdades.

Os setores de formação que os “rapazes e moças” de dona Marlene escolheram são variados. Tem assistência social, letras, educação física, enfermagem, ciências contábeis, biologia, engenharia florestal, pedagogia e até mesmo na área da medicina. Ela falou que o caminho percorrido para chegar lá, entretanto, foi repleto de muitas dificuldades.

“Meu marido dizia que ou colocava todos na escola ou não colocava nenhum. Plantamos muita roça para fazer farinha. Quem estudava de manhã trabalhava à tarde e quem estudava à tarde trabalhava pela manhã. Quem estudava à tarde saía de casa às 10h30 e só chegava às 20h”, relembra a mulher, que hoje já é aposentada.

Além do empenho dos pais, outro motivo foi considerado pela família sendo responsável pelo grande sucesso acadêmico dos filhos. A convivência entre os irmãos, que de acordo com eles, é resultado das adversidades que suportaram.

“Hoje a gente vê com risos, mas na época era muito sofrido. Imagino quanto minha mãe sofreu. Como não havia vestimenta para todos, quem estudava à tarde esperava os irmãos chegarem da escola para pegar a roupa e o calçado. Muitas vezes nossa mãe fazia farofa com um ovo para sete comerem. A gente nem via o amarelo da gema do ovo”, recordou o escrivão da Polícia Civil de Cruzeiro do Sul, Geovane Maciel, de 33 anos.

A união entre os irmãos terminou conservando também na vida profissional. Sete deles trabalham em órgãos da Segurança Pública do Estado.

“Eles sempre foram unidos. Primeiro trabalharam quatro nos Correios. Depois começaram a fazer concursos e foram passando. Hoje tenho quatro na Polícia Civil, dois no Iapen [Instituto de Administração Penitenciária] e uma no Corpo de Bombeiros. Sinto muita emoção. Isso é providência divina em nossas vidas, sinto muito orgulho dos filhos que tenho”, contou Marlene emocionada.

Abordada se tem alguma preocupação pela razão da profissão dos sete filhos, a ex-seringueira nega. “Não tenho nenhum medo devido à profissão deles. Acho normal como qualquer outra. A gente tem que confiar em Deus e seguir a vida”, menciona.

O filho mais velho da ex-seringueira, que hoje é um agente penitenciário, Jerry Maciel de Souza, de 37 anos, é claro em falar que o sucesso da família se deve à coragem de sua mãe.

“Temos muito orgulho de nossa mãe. Todos têm faculdade e a maioria tem bons empregos. Isso foi graças a Deus, nosso esforço, e, principalmente, o zelo de nossa mãe que sempre nos estimulou a buscar na escola nosso futuro. Nossa mãe é uma guerreira e vamos sempre estar ao lado dela”, completa.