“Meu filho falou: Pai, ainda bem que o senhor acreditou em mim”

Pai de jovem preso injustamente por crime no Rio revela que filho foi espancado na prisão.

“Estou lembrando de uma coisa que meu filho falou: ‘Pai, ainda bem que o senhor acreditou em mim. Porque aqui dentro eu não pensava em mim, pensava no senhor, na minha mãe e nas minhas irmãs'”, contou Jorge.

O pai também relembrou outra fala do filho:

“Fui espancado, fui jogado numa cela onde só tinha rato e percevejo, mas eu sei que Deus não deixou que os ratos me mordessem, me roessem, não deixou que os insetos transmitissem enfermidade para mim”.

Jorge também revelou que algumas pessoas pré-julgaram seu filho. Ele lhe disse:

“Cheguei aqui e a primeira palavra que ouvi foi: ‘Olha, o monstro chegou’. Eles iam me matar aqui dentro, mas os presos, que ali estavam, que conhecem quando a pessoa é perigosa, olharam para mim e falaram: ‘Neguinho, você não é criminoso, não é bandido, você é bucha e nós vamos te abraçar’”.

“Os presos o abraçaram, mas alguns agentes disseram: Você é monstro!”, revelou Benjamin, chorando.

O pai disse que sempre acreditou que o filho não tinha nenhuma participação no crime.

“Ele é um menino dócil, tranquilo, sereno, calmo, amoroso. Ele passa parte do dia com a mãe, está sempre no lar. Para falar o que é meu filho, seria até suspeito, pela forma como foi abraçado pelos amigos, quando saiu. Para mim, ele é excepcional, é um jovem que nos transmite segurança em tudo o que ele faz. Transmite confiança em tudo. Por isso, nós falamos para o policial que ele não era o culpado”, disse o pai.

“Ao chegar em casa, quando ele entrou pelo portão, foram os amigos que receberam ele, que pegaram ele nos braços jogando de mão em mão até chegar dentro de casa para que depois ele pudesse ser abraçado pela mãe e pudesse dizer: mãe, eu te amo, obrigado minha mãe por acreditar em mim”, contou Benjamin.

Relembre o caso

Após a investigação identificar de fato qual dupla teria assaltado o mercadinho em Pedra de Guaratiba no dia 15, a polícia solicitou que a prisão de Leonardo Nascimento fosse revogada.

“O Leonardo é muito semelhante ao que foi descrito pelas vítimas, mas houve um reconhecimento com pessoas de etnias diferentes daquela do Leonardo, ou seja, duas pessoas brancas (…). O Leonardo é negro, com características da pessoa do delito, isso pode ter induzido as vítimas ao erro”, disse Ingrid Dantas.

De acordo com o delegado Evaristo Pontes, a mãe de Matheus e outras testemunhas teriam reconhecido Leonardo como responsável pelo roubo no estabelecimento comercial, um mês antes de matar Matheus.

O delegado conduziu as investigações que terminaram com a prisão de Yuri Gladstone.